sábado, 5 de maio de 2007

Noite com poesia: Fotos, Crónica e Poemas





José Gomes Ferreira
Café XII ( De repente, o café tornou-se cósmico)

Vais perguntar outra vez porque existes?
Para quê? Para ficares com os olhos
do tamanho de ilhas tristes?
Pois não sabes que já milhões como tu e como eu
pediram em vão às aves
que procurassem nas nuvens aquela Porta
de que nem a Morte tem as chaves?
E quem a abriu? Quem sabe que Porta é?
(Rapaz! Mais um café!)


.../...


Escreveu um dia Eugénio de Andrade que:

"São como cristal /
as palavras. /
Algumas, um punhal, /
um incêndio. /
Outras, /
orvalho, apenas. /
Secretas vêm, cheias de memória.”



Crónica:

Não podemos deixar de pensar neste início de poema tão límpido e aplicável à noite de poesia que ocorreu a 21 de Março de 2007 no RedBox. Tratou-se de um evento absolutamente diferente nesta cidade, de uma noite múltipla, heterogénea, onde houve lugar para se ser “cristal” e para se ser “punhal”, para se ser “incêndio” e “orvalho” ao mesmo tempo. As palavras, os movimentos, a música, a surpresa que esvoaçaram nos céus da caixa vermelha naquela noite ainda não se deixaram cair, amorfos, no chão. Continuam secretamente na “memória” de todos os que estiveram presentes no RedBox e flutuam ainda no espaço, como sementes de cultura da terra, mas essencialmente do espírito, prontas para brotarem onde as deixarem crescer. A artemúltipla, organizadora do evento, provou que a poesia não é necessariamente aborrecida e difícil e que pode ser motivo quer para gargalhada, quer para nostalgia, saudade, reflexão e vontade de pensar e agir.

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